sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O LADO MAIS PERTO DO LONGE






Pois leva-me
leva-me às lágrimas
ao cume da alegria
e do sorriso

conduz-me
com as tuas mãos voláteis

o teu jeito de gaivota
à alvorada do teu nome
em ritmos de mistério

que só tu conheces
eleva-te
e leva-me contigo
num desaforo da alma
ao infinito dos sonhos
e da neve
depois
podes deixar-me lá
entre nuvens e sóis postos
no sossego de marés
entre os dedos
leva-me pois

fico à tua espera


ma.junho.o7

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

TRAPOS

 


Quando nascemos,
em trapos enrolados somos.

Para a inteira vida,
dos trapos não nos safamos.

Seja casamento ou baptizado,
de trapos formados vamos.

Trapos do dia-a-dia:
um pouco menos compostos.








Festas, domingos e missa:
colarinho bem passado.

Trapos. Trapos. Trapos.
Para tudo e para o nada.
Até na morte.

E, ainda,
dizem:
velhos
são
os
trapos.

E os trapinhos,
onde cabem?

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

AZUIS





Os azuis da ternura
nunca se esgotam

ora um pouco mais
mesmo um pouco menos

os azuis
da ternura

permanecem



terça-feira, 19 de outubro de 2010

DOR

 


 Uma dor no estômago
uma dor na alma

a querer abraçar
o mundo

a querer abraçar-te
a ti






sexta-feira, 8 de outubro de 2010

NAMORO




Ela sentada
na soleira da porta

Ele de pé
com o yo-yo na mão

olham-se de frente
numa ternura estampada
no rosto dos dois

Têm doze anos
e esperam ser felizes
um dia

terça-feira, 16 de março de 2010

TODOS OS LUGARES

*







Em todos os lugares
há gente assim
uns com fome
outros a ver se sim

mas tenho um velho amigo
que a tudo diz não
não pensa no futuro
diz ter tudo na mão

em todos os lugares
há gente assim
sem medo da morte
a saber dizer não






ESTRELAS

*







as estrelas
não têm
qualquer
importância

vivem
tão longe


segunda-feira, 15 de março de 2010

ESCRAVATURA

*





entra no metro
apanha a ligação
sai
vai a pé
chega ao trabalho

cinco minutos
de desconto
no cartão

a vida está negra
leva lancheira
almoço na rua
rotina rotineira



À ZÉ GOMES

*







Aos amigos
quantas vezes disse
bom-dia

com vontade
de partir
a cara do mundo

quantas vezes


FAZES-ME BEM

*












a tua presença
o teu jeito de dançares
o teu sorriso fugaz
as tuas mãos nervosas
o teu coração subtil

fazes-me bem

e finges que não sabes
que volto a ser menino



DRAMA

*













foi o rumo da vida
foi a direção do vento
foi a falta de pão
foi a falta de sorte

tudo lhe faltou
quando não devia

morreu ontem
e fazia anos

de abandono



ANDANÇAS

*










entre caminhos
e outras esperas

o homem se perdeu

e apesar
de ter tentado

nunca mais
se encontrou





domingo, 14 de março de 2010

ÚLTIMO CIGARRO











O vento
também passou por aqui.

Apenas
fez tremer a roupa
na varanda a secar.

Parece que só
faltaram lágrimas,

quando
fumava
o último
cigarro.




PERDIÇÃO












talvez
porque meias tintas
e títulos de jornal
não bastem
a uma vida

remeto-me
ao silêncio do poema
onde a cumplicidade
cresce cresce
e cresce

até ser céu
ou inferno

sei lá eu







segunda-feira, 8 de março de 2010

PASSOS DA SAUDADE












hoje

meus passos

levaram-me
aonde
eu não queria

aos recantos
da saudade

vez mais
tu estavas lá



HERAS DO TEMPO












pelas heras
da minha janela
mil vezes trepei

agora
têm medo delas
e cortadas
as encontrei

só que ninguém sabe
que até Einstein
por elas trepou


TERRA PROMETIDA












terra de leite e mel
terra de apútegas
e cogumelos

terra de sonhos

começa sempre assim
a promessa dos deuses

quando impossível é
cumprirem tanta promessa




sexta-feira, 5 de março de 2010

CONFISSÃO














nunca tive deuses

não é agora

que os vou adoptar


nunca tive deuses

mesmo que de humanos

a forma vestissem


nunca tive deuses


não é hora

de

voltar

atrás






TÉDIO
















Hoje

vez

mais

não

me

apetece

salvar

o

mundo






terça-feira, 2 de março de 2010

REGRESSO














Um dia destes


numa qualquer

margem

de um rio



voltarei

a encontrar-te



Um dia destes